domingo, 2 de dezembro de 2012

Sinais

Vamos largar as mãos porque não estamos juntos. Todo esse discurso de que solidão se cura com abraços é apenas papo dos iludidos. Enquanto estivermos e sermos, jamais entederemos o poder da unidade. Dois pés não pisam nos mesmos vidros, duas almas não sentem a mesma dor. A correnteza da existência talvez seja a força motora impulsiona os nossos passos. Somos arremessados para longe daqueles que nadam e poucos são os que não se afogam. Mesmo assim, te digo que devemos tentar. Vamos inflar o peito de ar quando chegar a nova onda. Vamos nadar para perto de nós, vamos nos agarrar aos sorrisos que nos alegram para criarmos rotas. É difícil entender o movimento do mar, é difícil nadar sem saber o destino. É complicado andar em terra firme com os olhos vendados sem saber onde é o horizonte. Pessoas passam como vento, como um grão de pólen que fecunda a próxima flor à quilômetros de distância. Talvez essa nossa tentativa de manter todos à vista possa ser em vão, mas como te pedi, não custa nada tentar. São apenas os laços que nos dão um rumo, apenas eles que nos localizam, que nos dão chão.  A vida é por si só uma experiência solitária. Então muito mais que dar as mãos, é preciso acenar quanto se está longe. Distantes estamos sempre, eu de ti e às vezes longe de mim mesmo. Para nos reconhecermos, devemos nos conhecer primeiro. Não preciso saber da sua cor favorita, nem da música que mais toca no seu rádio. É necessário te ouvir e saber das suas dores. Se apenas se calar, será difícil que com o tempo continue o mesmo e que quando eu te olhar novamente, me identifique contigo. Todos os anos, os meses, os dias, os minutos e os segundos corroem as coisas e transformam-nas em coisas novas. Mostre o seu âmago sem medo, pois ele é a sua única parte que não se modifica com o mundo. Sejamos poetas em nossas conversas, sejamos filósofos a cada encontro. E só assim jamais nos tornaremos estranhos.