sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre a solidão

Entender a própria essência é o mesmo que isolar-se num quarto escuro e só sentir o próprio hálito quente na boca fresca. Entender-se vai mais que o limite da razão de um homem que mal consegue ter tempo de ficar sozinho. Não ache que não gosto dos outros, meu amor. Gosto tanto que sinto falta quando não os tenho, mas a verdade é que todo homem precisa de um pouco de solidão. Os maiores gênios das palavras não fizeram seus versos cercados de amigos numa mesa de bar. Sentir-se só às vezes pode nos trazer a luz que a multidão ofusca. Por isso não flagelo o meu peito com a dor da minha mente que não dorme. Deixo-a digerir o que penso, catar os farelos das minhas incertezas que habitam uma noite como essa, em que nada na tv prende a minha atenção e no rádio tocam as velhas canções que me trazem o tempo que passou. Já andei pelos cômodos como o um senhor aposentado cujo sono não vem. Já fumei um cigarro e namorei a lua na varanda da sala. As horas passam como dias e o vento que invade a janela congela minha alma. Estou turvo como a noite. Sem nuvens que me levam a esconder as minhas culpas, sem a penumbra que oculta o meu remorso. Sem vozes, somente com silêncio e poesia. A noite me desnuda, nela não importa o carro que tenho na garagem e nem as mulheres que me seduzem. Dos estalos de consciência surgem fantasmas. Tristes pensamentos que me envergonho e que se soubesses te magoaria, mas se não os tivesse, como poderia questionar a vida? Não há razão naquilo que não se contesta. Por isso penso, sorrio, enrubesço e choro nessa cena sem atores.



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