quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sobre o tempo

Eram poucas as certezas que eu tinha. Naquele tempo eu não precisava pensar. Porque se eu divagasse, algum outro tomaria o meu lugar... Na minha vida noturna, nos corações das meninas, nos ombros dos meus companheiros. Eu era um misto de solidão e festa, de melancolia e insensibilidade. E a vida era tão fácil. Nunca dizia adeus, cantava músicas e dançava no chuveiro sem parecer ridículo. Ah tempos bons... Há tempos? Talvez eu não veja. Os olhos caíram assim como a carne que samba quando eu caminho. Antes era tudo tão doce. E agora a vida parece ser mais amarga. Os dias soam como meras rotinas sucessivas. E lá pelos vinte anos eu contava semanas, vivia em função das horas, dos segundos para poder correr por aí. Fugir da aula e agarrar uma garrafa de cerveja, passear com ela e acordar com meia dúzia de rapazes que a veneravam. Passado triste. Só triste porque lembro agora. E bebo em casa na penumbra que oscila entre a morte no meu olhar e o cansaço da minha voz cantando Chico. “Eis o malandro na praça outra vez...” Mas dessa vez caído num canto, sem mocinhas fotografando a minha ressaca e rindo da minha estupidez. O pior agora é que quando eu digo: “Garçom, me dá mais uma!” Ele não sorri pra mim. Porque os sorrisos estão para os jovens que pedem bebida na mesa ao lado. E não para o tempo que passou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário